terça-feira, 18 de maio de 2010
O projeto
Demolido em 1930, logo após o encerramento da “Exposição Internacional” para a qual fora construído como parte da mostra alemã, o Pavilhão de Barcelona de Mies van der Ruhe era, até ser reconstruído em 1986, conhecido somente por meio de desenhos e fotografias em preto e branco. Apesar disso, alcançou rapidamente um status quase mítico: vários historiadores e críticos declararam que era "o prédio mais belo do século".
A tarefa de Mies era difícil, mas aberta: fazer a propaganda, dez anos depois da Primeira Guerra Mundial, das qualidades da Alemanha democrática e culturalmente progressista. O pavilhão deveria, nas palavras do comissário Georg von Schnitzler, dar “voz ao espírito de uma nova era”. A resposta de Mies foi radical. Ao contrário dos pavilhões nacionais convencionais, não haveria exposições de produtos comerciais; somente a estrutura, uma única escultura e os móveis especialmente desenhados – a famosa “Cadeira Barcelona”, originalmente criada para ser usada pelo rei e pela rainha da Espanha na cerimônia de abertura, acabaria encontrando seu lugar em mais espaços corporativos de prestígio do que qualquer outro design.
A ausência de cômodos convencionais permitiu que Mies tratasse o Pavilhão como um espaço contínuo, fundido interior e exterior em um todo único modulado de diversas maneiras pelo plano da cobertura e pelas mudanças de material. O projeto baseava-se na separação absoluta entre estrutura e vedação – uma malha regular de pilares cruciformes de aço entremeada por planos dispostos livremente. Na prática, no entanto, o projeto teve que se adaptar às tradições artesanais do século XIX que perduravam em Barcelona; a estrutura era na verdade um híbrido confuso no qual alguns planos também serviam de apoio. Isto não fez muita diferença, tanto na época quanto hoje: o que se percebe é uma demonstração clara de uma maneira radicalmente nova de construir e de uma concepção espacial igualmente radical.
Longe de ser independente do contexto, o projeto pode ser interpretado também como um comentário sobre sua implantação – o próprio Mies escolheu o local depois de rejeitar a área que lhe fora inicialmente oferecida. Encoberto por uma fileira de colunas jônicas, o pavilhão atuava como um portal entre a arquitetura eclética da exposição principal e a “Villa Espanhola” que ocupava a colina do fundo. Do outro lado da longa praça ficava o pavilhão neo-renascentista da cidade de Barcelona. O projeto de Mies, instalado sobre um pódio baixo semelhante a estilobata de um templo grego, oferecia-se como um comentário sobre o desgaste da linguagem do classicismo.
Fonte: Plantas, cortes e elevações - Edifícios-chave do século XX, Richard Weston
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